Livro de Claudia Wonder dá uma lição de civilidade ao tentar derrubar o preconceito contra as trans
Por Hélio Filho, para o Mix Brasil
É mais do que um livro, é um documento, um recorte social, um registro histórico desse movimento no País e suas reverberações fora dele com a presença de muitas delas em países como Itália, Alemanha e Suíça, onde a própria autora morou por anos. Na capa, Claudia aparece bela e serena mostrado sua cara, como quem quer dizer que não tem medo de preconceitos arcaicos e que está disposta a dar o outro lado da face a quem agredi-la. Coragem e força tiradas de anos de luta sincera por dignidade e visibilidade. Marcas registradas de quem conhece bem Wonder. Ela revida os ataques com estilo, classe, em forma de palavras doces que são um soco no estômago de preconceituosos. Linda, educada, inteligente, mas alerta e pronta para se defender, sempre com elegância.
Dividido nos temas “Trabalho e profissão”, “Entrevistas”, “Identidade de gênero”, “Outras histórias”, “Perfis”, “Preconceito” e “Religião”, o bem escrito e elaborado texto desse ícone trans é uma leitura essencial para quem ainda carrega em si o que a própria autora, por várias vezes na obra, chama de homofobia internalizada, ou seja, aquela que é a pior de todas: a que vem dos próprios homossexuais. Antes de criticar ou menosprezar uma trans, é altamente aconselhável que se leia “Olhares...”. Com o perdão do trocadilho, seu olhar pode mudar radicalmente e você corre o maravilhoso risco de saber que também faz parte desse universo, mesmo não sendo uma trans.
Afinal, estamos todos envolvidos na mesma luta, somos vítimas dos mesmos preconceitos e desejamos as mesmas coisas. O que Wonder chama de antropofagia das tribos dentro do universo LGBT pode ser exterminado se você tomar consciência que as trans não são apenas prostitutas, cabeleireiras ou artistas. Elas são também advogadas, professoras, esteticistas de renome e, acima de tudo, seres humanos que tiveram a coragem de se assumir como realmente são em nome da felicidade plena de estar bem consigo mesmas, mesmo que isso implique no afastamento dos mais preconceituosos. Pior para eles.
Em seus textos, ela relembra um pouco de sua trajetória, destaca personagens antológicos que fizeram história no Brasil, percorre um pouco da história trans na Humanidade (revelando que isso existe desde a época das cavernas), mostra conhecimento de causa e cita com propriedade pensadores como o filósofo alemão Friedrich Nietzsche e o psicólogo suíço Carl Gustav Jung para dizer: somos gente, merecemos respeito e devemos ser admiradas porque temos coragem o bastante para sermos felizes do jeito que queremos, e não como dizem que é certo. Dê-se a oportunidade de ser guiado pelos olhares de Claudia Wonder e conheça mais sobre um mundo que também é seu. Olhe, admire, e aprenda. Até porque, críticas maldosas você pode deixar para a esmagadora maioria da sociedade, ok?
A obra será (foi) lançada no dia 10 de setembro, a partir das 19 horas, na Livraria Cultura - Loja de Artes do Conjunto Nacional, que fica na Avenida Paulista, 2073, em São Paulo.
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