segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

NOTA DE REPÚDIO DA ABGLT SOBRE O COMPORTAMENTO DE MARCELO DOURADO NO PROGRAMA BIG BROTHER BRASIL 10

A ABGLT – Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – é uma entidade de abrangência nacional que congrega 237 organizações congêneres e tem como objetivo a defesa e promoção da cidadania desses segmentos da população. A ABGLT também é atuante internacionalmente e tem status consultivo junto ao Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas.

Neste sentido a ABGLT vem a público manifestar o seu repúdio às declarações e ações homofóbicas e machistas de Marcelo Dourado, participante do programa Big Brother Brasil 10, veiculado pela Rede Globo.

Entre outras manifestações, como o uso do símbolo nazista no braço, podemos citar suas atitudes homofóbicas em relação aos participantes homossexuais do programa, incluindo a disseminação da noção equivocada de que “homem hétero não pega aids”, e a ameaça de espancar uma mulher lésbica participante do programa, conforme pode-se verificar nos vídeos disponíveis nos links abaixo:

(incluirei os vídeos no final da postagem, depois de reproduzir toda a Nota) 

Os dados epidemiológicos do Ministério da Saúde demonstram claramente que uma das tendências atuais da epidemia da aids é justamente a feminização, ou seja, há um aumento nos casos de aids na categoria de transmissão heterossexual (homem/mulher) enquanto o número de casos de aids na categoria homo e bissexual está estável há vários anos. Tal aumento na população heterossexual se deve em grande parte a crença estigmatizante de que a aids é uma doença apenas de gays, e que tristemente foi reproduzido pelo Sr. Dourado em cadeia nacional de televisão.

Estudos publicados nos últimos cinco anos vêm demonstrando e confirmando cada vez mais o quão a homo-lesbo-transfobia (medo ou ódio irracionalmente às pessoas LGBT) permeia a sociedade brasileira e assimilada pela juventude.

A pesquisa intitulada “Juventudes e Sexualidade”, realizada pela Unesco no ano 2000 e publicada em 2004, foi aplicada em 241 escolas públicas e privadas em 14 capitais brasileiras. Na pesquisa, 39,6% dos estudantes masculinos não gostariam de ter um colega de classe homossexual, 35,2% dos pais não gostariam que seus filhos tivessem um colega de classe homossexual, e 60% dos professores afirmaram não ter conhecimento o suficiente para lidar com a questão da homossexualidade na sala de aula.

O estudo "Revelando Tramas, Descobrindo Segredos: Violência e Convivência nas Escolas", publicado em 2009 pela Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana, traz uma amostra de 10 mil estudantes e 1.500 professores do Distrito Federal, e aponta que 63,1% dos entrevistados em uma escola alegam já ter visto pessoas que são (ou são tidas como) homossexuais sofrerem preconceito; mais da metade dos professores também afirmam já ter presenciado cenas discriminatórias contra homossexuais nas escolas; e 44,4% dos meninos e 15% das meninas afirmam que não gostariam de ter colega homossexual na sala de aula.

A pesquisa “Preconceito e Discriminação no Ambiente Escolar” realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, e também publicada em 2009, é uma amostra nacional de 18,5 mil alunos, pais e mães, diretores, professores e funcionários, e revela que 87,3% dos entrevistados têm preconceito com relação à orientação sexual.

A Fundação Perseu Abramo publicou em 2009 a pesquisa “Diversidade Sexual e Homofobia no Brasil: intolerância e respeito às diferenças sexuais”, que demonstra que 92% da população reconhece que existe preconceito contra LGBT e que 28% reconhece e declara o próprio preconceito contra LGBT, percentual este cinco vezes maior que o preconceito contra negros e idosos, também identificado pela Fundação.

As atitudes e declarações de Marcelo Dourado, em um programa de televisão com grande audiência nacional, apenas servem para reforçar toda esta carga de preconceito, discriminação e estigmatização contra a população de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT), e demonstram a impunidade com que esta forma de discriminação se aplica na sociedade brasileira, ao contrário do racismo e outras formas notórias de discriminação passíveis de punição prevista em lei.

É preciso envidar esforços, a exemplo da iniciativa do governo federal, através do Plano Nacional de Promoção dos Direitos Humanos e Cidadania LGBT, para que se diminuem o preconceito e a discriminação contra pessoas LGBT, e que se promova o respeito às diferenças, quaisquer que sejam, existentes entre as pessoas que compõem nossa sociedade. Os meios de comunicação têm um papel chave nesta empreitada.

Toni Reis
Presidente
ABGLT - Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais

As pesquisas citadas nesse texto podem ser consultadas em
http://www.abglt.org.br/port/pesquisas.php

O texto original da Nota da ABGLT foi recebido por e-mail.  



TERÇAS TRANS :: 23 DE FEVEREIRO

Olá Pessoal,

Nesta terça dia 23 tem reunião!!
Faremos um tema livre com troca de experiências!!
Um ótimo momento para sanar suas dúvidas e rever os amigos,
APAREÇAM!!!

Um beijo no coração,

Dia 23/02/2010 às 19h
Centro de Referência da Diversidade
Rua Major  Sertório, 292/294 - Centro
Metrô República

Coordenação: Alessandra Saraiva
Organização: Associação da Parada GLBT de São Paulo e Centro de Referência da Diversidade.

Entre pro grupo de discussão do Terças Trans:
http://br.groups.yahoo.com/group/tercas-trans/
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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Após humilhação, transexual consegue nome social em Bilhete Único

Por Marcelo Hailer 10/2/2010 - 13:08

A ativista Carla Machado nem sabia, mas na tarde de ontem se tornaria a primeira mulher transexual da cidade de São Paulo a retirar o Bilhete Único com o nome social. Isso baseando-se na lei municipal (decreto 51.181/2010) que garante tal direito. Também seria chamada de "senhora" pelos jovens atendentes do posto e na hora de tirar foto para a carteirinha escutaria um sonoro "Carla", avisando que era sua vez...

Pra muita gente tal relato pode parecer coisa simples, mas para quem está acostumado a ser chamada de "homem" e "traveco", mesmo com aparência e identidade feminina, a vitória acima dificilmente cairá no esquecimento, porém, antes disso...

"Seu nome é Alexandre"

Na segunda-feira (08/02) Carla foi retirar o seu bilhete único no posto localizado próximo ao metrô Marechal Deodoro. O que deveria ser um procedimento de 30 minutos, no máximo, virou um imbróglio de dois dias que culminou em abertura de processo contra o Estado.

Primeiramente Carla foi atendida por uma moça chamada Ana, "muito simpática", diz. Carla explicou à atendente que há uma lei municipal que a  permite usar o nome social em documentos. A moça não questionou, mas quando levou o caso ao responsável pelo posto, o senhor José Lima, este disse que sob a sua gerência "isso não iria acontecer".

Ao escutar a negativa, Machado tentou explicar ao supervisor do posto de atendimento que já havia passado por uma cirurgia de adequação genital e que tem um processo judicial em tramitação para a mudança do nome em seus documentos. Sem sucesso. Lima nem a deixou terminar de falar e começou a chamá-la de "senhor".

"Seguinte meu senhor", começou o gerente, "aqui não tem nada disso, seu nome é Alexandre", em seguida avisou que o "seu problema pessoal você pode brigar com quem quiser, com a justiça, mas aqui é do jeito que eu quiser".  Não houve acordo e o sujeito começou a gritar e chamá-la pelo nome de registro e dizer que, se ela insistisse iria processá-la por "falsidade ideológica".

Carla ainda tentou explicar a respeito da lei municipal e de seu decreto, mas não houve acordo e as grosserias homofóbicas continuaram. "Que decreto nada, ninguém seria louco de assinar um negócio desses".

"O corpo é de mulher, mas você é homem" 
Carla resolveu voltar ao mesmo posto no dia seguinte, terça-feira (09/02), mas desta vez acompanhada de seu amigo Jack e com a reportagem do A Capa. Todos a paisana, como se fossem clientes em busca de informação. O relógio marcava 13h30 e Carla foi avisada de que o gerente estava em horário de almoço. Algum tempo depois chegaram Franco Reinaudo, coordenador da CADS (Coordenadoria de Assuntos da Diversidade Sexual) e Gustavo Menezes, advogado da órgão.

Quinze minutos depois o responsável pelo posto de atendimento, José Lima, chegou. Com o palito de dente no canto da boca e expressando fadiga pós-refeição, o sujeito já olhou para Carla e soltou um "você de novo". Carla novamente começou a explicar e o gerente bufava e disparou "em outro lugar pode ser que façam, aqui não".

Nesse momento Gustavo se identificou enquanto advogado de Carla e começou a explicar a situação ao atendente e que ele poderia ser enquadrado na lei estadual 10.948/01, que pune administrativamente atos homofóbico em São Paulo. O homem fez cara de poucos amigos e não se intimidou.

"Aqui eu vejo outra pessoa, o corpo pode ser de mulher, mas é homem", disse o gerente. Pacientemente Gustavo explicou que Carla é mulher transexual, que havia passado pela cirurgia, falou sobre a lei e mostrou o decreto ao atendente. Não houve acordo. Menezes o informou de havia testemunhas de que ele se negara a dar entrada no Bilhete Único com o nome social e de que ele seria intimado a depor. Assim, todos se retiraram do local.

Por conta do posto de Bilhete único estar sob a gerência do Metrô, Franco Reinaudo não pode intervir enquanto autoridade municipal e fazer com que o processo da retirada do bilhete fosse iniciado. A história não ficaria por ali. O advogado e a reportagem acompanharam Carla até outro posto. O endereço era no Shopping Light, no centro de São Paulo.

Vinte dias

Com o decreto em mãos, chegamos ao posto do Bilhete Único localizado no Viaduto do Chá, dentro do Shopping Light por volta das 15h. O movimento era mais constante do que o endereço anterior. Carla pegou uma senha e aguardou ser chamada. Trinta minutos depois chamaram pelo seu número.


Carla explicou ao jovem atendente o que estava buscando. Muito simpático, o rapaz avisou que iria ligar para a central e se informar a respeito do decreto e de que maneira deveria prosseguir. Cinco minutos mais tarde o jovem retornou e avisou que estava autorizado a fazer o Bilhete Único com o nome social de Carla. Porém, o funcionário avisou que não tinha o formulário necessário. Feliz, Gustavo avisou que o tinha em seu pen drive.


Documentos impressos e assinados. Carla tirou foto para o documento e foi avisada de que em "vinte dias" o Bilhete Único estará pronto. Ao receber tal informação Carla não se conteve e afirmou que de agora em diante não vai mais usar o RG, apenas o Bilhete. À reportagem, o atendente disse que a direção avisou que irão substituir todo o sistema e adequá-lo a nova lei e que há uma demanda grande de travestis e transexuais com questão idêntica a de Carla.

Mesmo vitoriosa Carla decidiu que ia abrir processo contra a administração do Metrô. Às 19h o processo já estava aberto, na Decradi - Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância.

À reportagem do A Capa Carla disse que está se "sentindo vitoriosa" e que nunca tinha se dado conta de um decreto "fora do papel". Sobre o documento em si, ela revela que em seus "37 anos de vida nunca poderia imaginar que teria um documento com a minha foto dizendo que eu sou Carla, pois a justiça me nega isso há anos".

A trans, no entanto, não esquece a humilhação sofrida. "A cara de nojo daquele homem, representa para mim o mesmo nojo que o Estado sente por pessoas como eu", desabafou. Para ela tal situação é o Estado a humilhando desde que nasceu. "Aquele cara representa o Estado que me humilha".

A história se encerrou na Decradi, quando Carla Machado abriu o processo. Se Carla é a primeira mulher trans da cidade de São Paulo a retirar o Bilhete Único com o nome social, com certeza não será a última a processar o Estado por homofobia e discriminação.

Fonte:
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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Justiça garante a transexual direito de retornar à reserva da Aeronáutica

Ela foi reformada, num processo que correu contra a sua vontade. Agora, a Justiça lhe garante o direito de retornar à reserva. Aeronáutica deve recorrer
 
Marcelo Abreu
Publicação: 29/01/2010 08:49 Atualização: 29/01/2010 10:36
 

Mesmo tendo direitos assegurados, Maria Luiza não voltará à ativa: agora, pela idade. Enquanto aguarda mais uma sentença, ela se dedica a um novo passatempo, a fotografia - (Zuleika de Souza/CB/D.A Press
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Mesmo tendo direitos assegurados, Maria Luiza não voltará à ativa: agora, pela idade. Enquanto aguarda mais uma sentença, ela se dedica a um novo passatempo, a fotografia

São 10 longos anos de luta. Tempo suficiente para causar uma brutal mudança de vida. Mas a batalha ainda não terminou. Primeiro, o isolamento na caserna. E um parecer, do Alto Comando, a que o Correio teve acesso, em 2000, com exclusividade: “Atrofia testicular por provável ação medicamentosa. Transexualismo”. E a decisão que a afastaria para sempre, depois de 22 anos de serviços prestados à corporação, com condecorações e medalhas: “Incapaz, definitivamente, para o serviço militar. Não é inválido. Não está incapacitado total ou permanentemente para qualquer trabalho. Pode prover os meios de subsistência. Pode exercer atividades civis”.

Depois, com coragem sem precedentes, o enfrentamento contra o parecer. À procura por ajuda, ela bateu à porta do Ministério Público. O promotor Diaulas Ribeiro, da Promotoria de Defesa dos Usuários de Saúde (Pró-Vida), ouviu a sua história. Aceitou a luta. Começaram as consultas com psiquiatras. Laudos. Novos relatórios. Em 2005, a mais importante transformação de sua vida: a cirurgia de mudança de sexo. Ela virou o que sempre sonhou.

18 de maio de 2007: direito de mudar definitivamente o sexo e o nome na carteira de identidade - ()
18 de maio de 2007: direito de mudar definitivamente o sexo e o nome na carteira de identidade

Em 2007, a primeira grande vitória. A juíza substituta Lília Simone Rodrigues da Costa Viera, da 1ª Vara de Família do Tribunal de Justiça do DF, numa sentença ousada, despachou: “O sexo é atributo da personalidade, sendo dela parte integrante. Negando-se o direito de alguém ter o sexo correspondente ao órgão que possui é sonegar o direito de ser feliz, de ter esperança, de acreditar na vida, de viver com dignidade”.

Extremamente corajosa, a juíza continuou: “Rechaçar o direito do requerente em ter o sexo alterado em seu registro civil é plasmar injustiça flagrante, pois o autor, conforme mencionado nos autos, sempre se sentiu mulher, se veste como mulher e, além disso, repito, já retirou a genitália masculina que possuía”. Desde aquele dia, estava reconhecido o direito de Maria Luiza da Silva — nome que escolheu antes mesmo da cirurgia — pertencer ao sexo feminino.

Mas ainda faltava a alteração no registro civil. Em 2007, a segunda vitória. O juiz substituto da Vara de Registros Públicos do DF, José Batista Gonçalves da Silva, acolheu a manifestação do Ministério Público e determinou a alteração do nome, como também a averbação à margem do assento de nascimento. Maria Luiza teve uma nova certidão.

Afastamento ilegal

4 de abril de 2008: mais uma vitória, a identidade militar feminina - ()
 4 de abril de 2008: mais uma vitória, a identidade militar feminina

A vitória mais recente foi publicada na quinta-feira, 21. É a que trata da volta aos quadros da Aeronáutica. Mesmo que na reserva, por questão da idade. A Justiça entendeu que o afastamento (leia-se reforma, aos 39 anos) da função de cabo foi ilegal. “Quando eles me reformaram, chorei muito. Durante 22 anos, servi exemplarmente às Forças Armadas. Durante 22 anos, nunca tive uma punição na minha ficha. Recebi condecorações e certificados pelos bons serviços prestados à corporação”, diz Maria Luiza. E emenda: “Todas as vezes que os médicos me perguntavam se eu queria ser reformada, eu dizia: ‘Quero continuar a minha carreira, servir à Aeronáutica. É o que sei fazer e faço com muito orgulho’. Nada adiantou. Reduziram meu salário à metade e fui reformada por um ato preconceituoso”.

Na sentença, assinada pelo juiz Hamilton de Sá Dantas, titular da 21ª Vara Federal, está escrito: “Pela análise de toda essa documentação, acostada nos autos, fica evidente que a demandante, apesar do diagnóstico de transexual, tem perfeito domínio de suas faculdades mentais e psíquicas, não possuindo, portanto, nenhuma incapacidade para a vida profissional”.
No fim, Sá Dantas conclui: “Com isso, a transexualidade, apesar de uma doença de transtorno psicológico, não gera nenhuma incapacidade permanente apta a justificar uma reforma, mesmo que na seara militar. Trata-se, sim de uma doença passível de tratamento e cura e não uma doença incapacitante”.

No meio da manhã de ontem, o Correio voltou à casa de Maria Luiza, um apartamento humilde (funcional) de dois quartos no Cruzeiro Novo — onde ainda mora graças à força de uma liminar. De calça jeans, blusa decotada, tamancos pretos, unhas pintadas de vermelho, brincos e batom discreto, ela falou sobre a última decisão judicial.

Emocionada, com a voz baixa, disse: “Desde que comecei na minha transformação, quis continuar na profissão. Fui impedida e humilhada. Hoje, com essa decisão, senti a minha dignidade resgatada. Mostra à sociedade que o mundo precisa ser revisto. Não se pode discriminar por orientação sexual. Eu sempre fui digna de pertencer aos quadros da Aeronáutica”.

Silêncio

A última decisão da Justiça Federal tira Maria Luiza da reforma e a coloca na reserva, com soldo igual aos militares nunca reformados. A cabo, entretanto, não voltará à ativa, em função da idade. Ela completou 49 anos. O tempo de serviço, 30 anos adotados nas Forças Armadas, já transcorreu. “Me alistei com 18 anos. Toda minha vida me dediquei ao meu trabalho, que era de mecânica de avião. Fiz muitos cursos e, antes de ser reformada, eu já ensinava o que sabia. Entendo a questão da idade, mas ainda sou perfeitamente capaz para o trabalho”, reflete.

Para o advogado de Maria Luiza, Luís Maximiliano Telesca, de 35 anos e há sete à frente dos processos, a decisão favorável é uma inédita vitória. “É uma sentença histórica do judiciário. Ele reconheceu que um transexual está apto a exercer a vida militar”. Telesca informou, ainda, que, como cabe recurso à ação, a Aeronáutica, muito provavelmente, recorrerá a instâncias superiores.

Procurada pelo Correio, a Aeronáutica, por meio do Centro de Comunicação Social, disse que, até que seja transitado em julgado (já que cabe recurso), a instituição não se manifestará. Enquanto aguarda mais uma batalha, Maria Luiza, o primeiro caso de transexualismo nas Forças Armadas do país, continua fazendo palestras para o grupo de transexuais (homens e mulheres) atendido no Hospital Universitário de Brasília (HUB). Vai à missa todo domingo (é devota da Virgem Maria), pinta quadros e tira fotos com sua máquina analógica. Fotografas flores por onde passa. “Sempre gostei de fotos, desde adolescência”.

Folheando a sentença do juiz (mais uma), ela confessa: “Sempre quis um recomeço de vida, ser feliz. Nunca me senti homem. Passei a minha vida toda contrária ao meu sentimento. Esse documento é mais uma prova de que a luta não foi em vão. E pode ser a luta de muitas outras pessoas”.


 - (Zuleika de Souza/CB/D.A Press)

Para saber mais
Sofrimento psíquico

Transexualidade é uma condição clínica em que se encontra um indivíduo biologicamente normal e que, segundo sua história pessoal e clínica e de acordo com o exame psiquiátrico, apresenta sexo psicológico incompatível com a natureza do sexo somático. Portanto, um indivíduo que se encontra nessa condição tem uma autoimagem invertida e, por isso se sente diferente (espécie/gênero) daquilo que fisicamente o representa (sexo/órgão). Pessoas nessa situação padecem de profundo sofrimento psíquico. No caso de Maria Luiza, que nasceu J.C., ela nunca aceitou a genitália masculina. Alguns pacientes acreditam que houve, de fato, na concepção, um erro na determinação do sexo anatômico. Muitos deles buscam a cirurgia para mudança de sexo. Em casos extremos, alguns se automutilam. Outros, desesperados, chegam ao extremo do suicídio.

A Organização Mundial de Saúde considera a transexualidade e o transgenerismo patologias mentais, chamadas Transtornos de Identidade de Gênero na classificação Internacional das Doenças (IC-10). O diagnóstico é feito por psiquiatras ou psicólogos, por meio de várias conversas com o paciente, para determinar corretamente os sentimentos dele. Depois, são emitidos laudos que atestam o transtorno.

Fonte:

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Durante a Conferência da ILGA-LAC em Curitiba, lideranças discutem participação política do movimento LGBT

Durante Conferência em Curitiba, lideranças discutem participação política do movimento LGBT
31/01/2010 - 14h15

























Amaranta Regalado foi a primeira candidata a deputada federal do México que teve a postulação registrada com o nome transexual

A participação política do movimento LGBT (sigla para lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e transgêneros) foi discutida por suas próprias lideranças durante a 5ª Conferência Regional da Ilga na América Latina e no Caribe, evento realizado em Curitiba (PR) entre os dias 27 e 30 de janeiro com o objetivo de defender os direitos desse público.

Para apontar avanços e indicar o que precisa melhorar nessa área, militantes compartilharam parte de suas trajetórias de vida e o caminho que estão percorrendo no ativismo. Confira alguns relatos a seguir.

Amaranta Regalado (México)

A ativista dos movimentos LGBT, de HIV/aids e indígena foi a primeira candidata a deputada federal do México que teve a postulação registrada com o nome transexual.

Em seu projeto de governo defendeu a equidade de gênero, despenalização do aborto e da maconha, diversidade sexual, entre outras questões. “A Igreja Católica fez campanha contra mim”, afirmou.

Sofreu um acidente e perdeu um dos braços. “Mas a deficiência física não é minha bandeira. Já há quem lute por isso.”

Belissa Pérez (Peru)

Integra o secretariado mundial da Ilga (Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais) e desenvolveu sua ação política no Instituto Runa de Desenvolvimento e Estudos sobre Gênero.

Belissa contou que desde criança tinha vocação para o ativismo. A primeira ‘escola’ foi com a Igreja Católica, lutando contra a pobreza.

Começou a atuar no movimento LGBT quando ingressou na universidade. Engajou-se na esquerda política, mas não se encontrou ideologicamente. “Além disso, a imprensa passava uma ideia estereotipada das pessoas de esquerda, como se todas fossem rebeldes e elitistas. Eu não queria essa imagem para mim”, contou.

A crítica que fez à participação política do movimento é que, apesar de os militantes terem espaços públicos garantidos e os ocuparem, o governo não o deixa avançar.

Antonio Sardinha (Brasil)

Jornalista, integrante do Mescla-MS (Movimento de Estudos de Sexualidade, Cultura, Liberdade e Ativismo do Mato Grosso do Sul), Antonio participa de um projeto de formação política LGBT.

A ação tem o objetivo de promover o empoderamento de grupos locais para práticas cotidianas de defesa de direitos. “A participação em locais formais começa a partir das ações no dia-a-dia”, defende.

Segundo ele, no Brasil a agenda de direitos sexuais é colocada em segundo plano. Uma das discussões que levantou foi como fazer com que eles “deixem de estar escondidos nos planos de direitos humanos”.

Fernando também acredita que existe dificuldade de diálogo e integração entre os diferentes movimentos sociais.

Beto de Jesus (Brasil)

Secretário regional da Ilga na América Latina, membro da diretoria da ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros) e consultor em educação, Beto avalia que nos mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva o movimento LGBT conseguiu grandes avanços, como a realização da primeira Conferência Nacional.

Porém, o ativista defende maior autonomia do ativismo em relação ao governo. “Isso é fundamental, nossa sustentabilidade é muito frágil.”

Beto citou ainda como pontos críticos do movimento social LGBT a alienação de muitos gays e lésbicas em relação às questões políticas e a falta de espaço, nos congressos e encontros, para a discussão de questões sobre o corpo e sobre as subjetividades dos integrantes do segmento. 

Mais engajamento e estratégia

A moderadora do grupo de trabalho, a ativista chilena Iris Hernández, articulou os relatos afirmando, entre outras coisas, que o movimento LGBT precisa de engajamento continuado. “Sempre começamos com um grupo grande e depois as pessoas vão deixando a luta. Ficam duas ou três, que sozinhas não dão conta de reivindicar todas as demandas”, disse.

Iris também declarou que é preciso trabalhar estrategicamente as diferenças ideológicas no interior do movimento de modo que isso, em vez de prejudicar, contribua com a causa.

Sobre o evento

A 5ª Conferência Regional da Ilga na América Latina e no Caribe reuniu cerca de 420 ativistas, de 37 países, em defesa dos direitos LGBT.

A Ilga é uma federação mundial que congrega grupos locais e nacionais dedicados à promoção e defesa da igualdade de direitos para lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexuais em todo o mundo. Fundada em 1978, reúne mais de 670 organizações.

Fábio Serrato

O repórter Fábio Serrato cobriu a 5ª Conferência Regional da Ilga na América Latina e no Caribe com apoio da organização do evento


Fonte:
Agência de Notícias da AIDS
http://www.agenciaaids.com.br/noticias-resultado.asp?Codigo=13989