segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Por quem as travestis choram ?


Hoje eu li uma notícia que me fez lembrar desse texto, postado na comunidade Homofobia - Já era, no Orkut, em 09 de fevereiro de 2006:

Por quem as travestis choram?


Na quarta-feira, 25 de janeiro, Claudete Troiano saiu de casa para trabalhar.

Seu corpo foi encontrado num terreno baldio do Jardim Itatinga (em Campinas/SP.) já em adiantado estado de putrefação. Seu crânio quebrou com força da pancada desferida por um pedaço de madeira (?).

Claudete Troiano tinha 24 anos, era travesti e profissional do sexo. Havia saido para fazer um programa. Encontrou a morte. Fui informado de seu falecimento por telefone. Seu corpo fora encontrado na manhã de sábado, 28, por uma moradora do bairro.

Por problemas burocráticos, final de semana, folga do delegado, etc., o sepultamento de seu cadáver ocorreu na terça-feira, 31 de Janeiro, no cemitério dos Amarais, numa vala comum.

Alguns militantes, representantes do Centro de Referência GLTTB, e mais meia dúzia de travestis, suas colegas de infortúnio, acompanharam emocionados o pobre caixão de madeira barata, destinado pelo poder público aos indigentes.

De família pobre, oriunda de uma pequeno povoado nos cafundós de Mato Grosso (não sei se do Sul ou do Norte), provavelmente fugindo das carências financeira, habitacional, educacional, ou de tudo isso, aliado a incompreensão e chacotas provocadas por seus trejeitos femininos, um garoto franzino, de pele esturricada, se mandou por esse mundão de meu Deus, em busca de um pouco de conforto, se não material, pelo menos psicológico.

Chegando no grande centro urbano, deslumbrado e ansioso, o pobre garoto, alterou suas formas físicas, mudou seu nome e assim encontrou conforto psíquico.

Mas como o correto é ser branco, heterossexual e classe média, e Claudete era negra, pobre e travesti, a escola, o trabalho e as pessoas normais a mandaram para as margens da sociedade. Desta maneira ela acabou no Itatinga, lugar de gente que não presta: cafetões, putas, viados, sapatões, maconheiros, traficantes e travestis!
Aliás, esta gente presta única e exclusivamente para alimentar as taras e vícios dos homens de bem brancos, heterossexuais e de classe média.

Mário Chamie, um poeta paulista, em um de seus versos diz que " o rio que tudo carrega é chamado de violento, mas não são violentas as margens que o comprimem". Seguindo esta lógica, é corrente o discurso que coloca as travestis como a escória social, drogadas, loucas, desvairadas.

Todos nós sabemos que amizade, carinho, reconhecimento são fundamentais para que qualquer ser humano se fortaleça e crie vínculos com os seus semelhantes mas a família expulsa, a escola exclui, o trabalho desemprega as travestis. Assim, tudo e todos que não tem lugar no espaço social - cafetões, putas, viados, sapatões, maconheiros, traficantes e travestis – se encontram nas margens da sociedade. E se unem, se alimentam, se estimulam, se confortam criando vínculos afetivos.

Fico imaginando o tamanho da dívida que a sociedade heterossexista tem com todos os indivíduos que ousam trilhar o caminho do desvio, que fogem da rota determinada por ela como a "normal". Já pensou no sofrimento psíquico imposto a um sem número de pessoas que estão na contra mão ? Na dor dos que são classificados como doentes pelos doutores, daqueles que são tidos como pecadores pelas santas religiões, daqueles que são jogados na marginalidade pelos juristas ?

Para quem vamos enviar esta dolorosa conta?

Naquela tarde do dia 31 de janeiro de 2006, um senhor de paletó puído, cabelos brancos e ligado a alguma irmandade da igreja católica rezou sobre o caixão onde jazia o cadáver de Claudete. Ele não era padre, nem bispo, e tão pouco tinha a aparência de alguém que pertencia a hierarquia da igreja. Ao aspergir água benta mandava para longe a culpa da igreja que trata gays, lésbicas, travestis e transexuais como seres condenados ao fogo eterno. Ao mesmo tempo acolhia para o reino do senhor a alma daquele corpo errante.

Uma travesti, vestida de preto, chorava copiosamente. Chorava por quem ? Por Claudete que fora assassinada ? Ou por todas as travestis que trilham o mesmo roteiro de vida?

Algumas das poucas pessoas presentes ao féretro, após depositarem algumas flores sobre o túmulo, acenderam velas e rezaram.

Sentado num banco próximo fiquei pensando: quem de fato precisa de um caminho iluminado: Claudete que se fora, ou aquelas guerreiras que resistem a todas as porradas cotidianas ?

Por Paulo Reis dos Santos
pa_re@bol.com.br



* Paulo Reis dos Santos é mestrando pelo GEISH – Grupo de Sexualidade Humana da Faculdade de Educação da UNICAMP e Coordenador do Centro de Referência de Gays, Lésbicas, Travestis, Transexuais e Bissexuais da Prefeitura Municipal de Campinas.

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Pois ao ler o jornal de manhã cedo, em meio a uma notícia que tratava dos assassinatos no feriadão de Ano Novo, me deparei com o seguinte:

"Na Capital, o corpo do travesti Bombom, 31, foi encontrado às 10h de ontem no Parque da Redenção, sem sinais aparentes de lesão." (sic)
http://www.correiodopovo.com.br/Impresso/?Ano=115&Numero=96&Caderno=0&Noticia=80146

Mas quem se importa com isso ? Quem é capaz de chorar por ela ?

Bombom era travesti, negra, pobre, moradora de rua, HIV+ e alcoolista. Vivia no último grau de exclusão social, em grande parte devido à sua sexualidade.

Frequentava as reuniões quinzenais da ONG Igualdade, nas tardes de quarta-feira, nos altos do Mercado Público de Porto Alegre. O principal motivo de ir às reuniões era a distribuição de preservativos, mas ela participava das rodas de conversa e gostava de dar palpite em todos os assuntos.

Muitas vezes, Marcelly Malta, Presidente da Igualdade, tinha que lhe mandar "calar a boca" (assim mesmo, de maneira direta), para deixar que as as outras pessoas também conseguissem falar um pouco.

Dizia que era feliz, porque tinha um homem que gostava dela e na rua encontrava tudo o que precisava para viver.

Com certeza, as próximas reuniões serão muito mais monótonas devido à sua ausência.

Que Descanse Em Paz !  
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2 comentários:

  1. Fico muito triste ao saber disso.
    Ainda tenho esperança que o ser humano seja mais humano.

    Deus o abençoe.

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  2. Pablo,

    Eu tb tenho, por isso que não desisto de divulgar esse tipo de mensagem. Obrigada pela visita e pelo comentário.

    Bjus, Luísa.

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