terça-feira, 23 de junho de 2009

28 de Junho: Dia Internacional do Orgulho de Gays, Lésbicas e Transgêneros

12/06/2009: por Luiz Mott

Do site Athos GLS


“A homossexualidade é tão antiga quanto a própria humanidade”, dizia Goethe. Apesar de sua antiguidade e universalidade, somente a partir do Código Napoleônico (1810) que o amor entre pessoas do mesmo sexo deixou de ser crime, embora ainda hoje, em muitos países muçulmanos e africanos, os homossexuais continuem a ser presos e até condenados à morte. Foi, no entanto, somente a partir dos meados do século XIX, quando se cunhou o termo “homossexual” que os próprios gays iniciaram sua luta organizada pelo respeito social e cidadania. E será apenas nos meados do século XX que se universalizará a celebração do Dia do Orgulho Gay.


Entre os pioneiros históricos desta luta destacam-se o acadêmico alemão Karl Ulrichs, o primeiro homossexual assumido a defender abertamente, em 1867, a descriminalização do amor unissexual; o jornalista húngaro Karol Maria Benkert, criador do neologismo “homossexual” (1869); o médico judeu alemão Magnus Hirschfeld, fundador do primeiro movimento de afirmação homossexual (1897) e entre nós, em 1979, o advogado gaúcho João Antonio Mascarenhas e Joao Silvério Trevisan, pioneiros e articuladores do Movimento Homossexual Brasileiro. Fundamos o Grupo Gay da Bahia em 1980.


Apesar de um início auspicioso, esse incipiente movimento defensor da cidadania lesbigay foi bruscamente sufocado pelo Nazismo – que destruiu todo o acervo documental sobre homossexualidade até então reunido no Comitê Científico-Humanitário de Berlim, e pelo confinamento nos campos de concentração de mais de 300 mil homossexuais masculinos. Será somente após o fim da Segunda Guerra Mundial que os homossexuais fundarão grupos organizados de defesa dos direitos humanos das minorias sexuais, na Noruega, Holanda, Estados Unidos, tendo como finalidade revogar leis e posturas que condenavam a prática homossexual entre adultos e promover a integração social de gays, lésbicas e transgêneros.


Embora não existindo na maioria dos países ocidentais leis específicas condenatórias do homoerotismo, por influência da homofobia de inspiração judaico-cristã, os homossexuais continuavam a ser tratados pela polícia como delinqüentes, rotulados de desviantes pela Sociologia e doentes mentais pela Psicologia, discriminados no trabalho, escolas, exército, igrejas, imprensa e demais instituições, sobretudo no seio do lar. Apesar e pour cause desta homofobia generalizada, gays, lésbicas e transsexuais de grandes cidades passaram a se reunir em “guetos”, notadamente em bares e boates onde podiam encontrar seus iguais e compartilhar interesses comuns. E foi exatamente num destes locais de encontro e diversão que teve origem o Dia Internacional do Orgulho Gay. Um dia conquistado na luta contra a repressão policial.


O Dia da Consciência Homossexual começou no fim de semana de 28 de junho l969, em Nova York, quando gays, lésbicas e travestis reunidos no bar Stonewall Inn, em Greenwich Village, cansados de ser humilhados e apanhar da polícia, que toda noite invadia seus espaços de lazer, agredindo e chantageando-os, decidiram reagir à prepotência policial. Era a época dos hippies, dos protestos contra a guerra do Vietnam, das manifestações de rua do movimento negro e feminista, auge da moda unissex.


Na noite de 27 de Junho de 1969, sexta-feira, dia de grande movimento na área de Christopher Street, no centro gay nova-iorquino, uma força policial do Departamento de Moral Pública da primeira divisão da polícia, como de costume, irrompeu portas a dentro do bar Stonewall In, sob o pretexto de reprimir a venda ilegal de bebidas alcoólicas. Também como de praxe, os casais que dançavam de corpos colados, imediatamente se separaram, para evitar violência e detenção. Naquela noite, em vez de agüentarem passivamente a prepotência policial, os 200 freqüentadores do bar reagiram bravamente, obrigando a polícia buscar reforço.


Na rua, mais de mil transeuntes se associaram aos protestos, gritando slogans: “Porcos”, “Basta de brutalidade policial”, e por horas seguidas, jogaram garrafas, latas e objetos incendiários contra a polícia. Com a chegada de novo reforço policial, foram efetuadas 13 prisões e um saldo de 4 policiais feridos. Na noite seguinte, 28 de junho, a Christopher Street voltou a se tornar verdadeiro campo de batalha, com uma multidão de gays, lésbicas e transgêneros gritando: “Gay Power”, “Gay Pride” (poder gay, orgulho gay). Este evento passou para a história como “Stonewall riots” (Revoltas de Stonewall) .


Foi esta a primeira manifestação/revolta de massa realizada por homossexuais que se tem notícia na história, e a partir dos anos seguintes, todo dia 28 de junho, primeiro em Nova York depois nas principais cidades do mundo, os homossexuais passaram a celebrar com manifestações de rua e diferentes atividades culturais e políticas, o Gay Pride, ou Dia Internacional do Orgulho Gay – hoje rebatizado como Dia do Orgulho de Gays, Lésbicas, Transgêneros e Bissexuais.


Em São Francisco, Nova York, Toronto, Londres, Paris, Madri, e mais recentemente também em Moscou, Bogotá, Buenos Aires e nas principais cidades do Brasil e do mundo ocidental, realizam-se concorridas Paradas Gays, muitas delas com a presença de autoridades e políticos que se juntam a milhares de homossexuais que saem às ruas para defender seus direitos de cidadania. No Brasil, desde 1981, o Grupo Gay da Bahia comemora esta data, com a realização de seções solenes na Câmara dos Vereadores e leitura de moções de apoio à cidadania homossexual na Assembléia Legislativa.


Embora desde 1980 registrem-se em nosso país passeatas e manifestações de rua de grupos homossexuais protestando contra a homofobia, foi em 1995, quando da fundação da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros, que teve lugar em Curitiba a primeira Parada Gay brasileira no estilo internacional, com carros alegóricos, muitos balões e bandeiras com o arco-íris, símbolo da diversidade pleiteada pelo movimento GLTB. Em 1996 ocorre a primeira Parada Gay do Rio de Janeiro, com 3.500 participantes – reunindo EM 2005 mais de um milhão de pessoas; em 1997 sucede a primeira parada de São Paulo, que originalmente com 5 mil participantes e em menos de uma década consagrou-se como a maior parada gay do mundo, com mais de 2 milhões de pessoas. Em 2005 realizaram-se 65 paradas, em todas as capitais e principais cidades do interior.


Por que os homossexuais proclamam o Dia do Orgulho Gay? Porque não têm vergonha de ser o que são! A livre orientação sexual é um direito inalienável de todo ser humano, seja homossexual, bissexual ou heterossexual. Ser homossexual não é doença: desde 1985 o Conselho Federal de Medicina, desde 1993 a Organização Mundial da Saúde e desde 1999 o Conselho Federal de Psicologia excluíram a homossexualidade da classificação de doenças.


Ser homossexual não é mais crime e muitos teólogos modernos defendem que o amor entre pessoas do mesmo sexo é tão ético e divino quanto o amor entre sexos opostos.A discriminação sim é proibida pela Constituição Federal. Auto-estima e afirmação identitária são fundamentais para que os gays conquistem igualdade de direitos, daí a ênfase no orgulho e nessas manifestações massivas. Somos milhões, estamos em toda parte.


O povo GLTB não quer privilégios: exigimos sim ser tratados como seres humanos, com os mesmos direitos e deveres dos demais cidadãos. Queremos cidadania plena já! E que todos dias, no ano inteiro, seja dia do orgulho homossexual.


Bibliografia
TREVISAN, João Silvério.
Devassos no paraíso: a homossexualidade no Brasil, da colônia à atualidade. (Ed. revista e ampliada) Rio de Janeiro: Record, 2000.
MACRAE, Edward.
A construção da igualdade: identidade sexual e política no Brasil da “Abertura”. Campinas: Ed. da UNICAMP, 1990. (Momento)

MOTT, Luiz.
O crime anti-homossexual no Brasil. Salvador, Editora Grupo Gay da Bahia, 2002
MOTT, Luiz. Homossexualidade. Mitos e verdades. Salvador, Editora Grupo Gay da Bahia, 2003
DYNES, Wayne.
Encyclopedia of Homosexuality. New York, Garland Press, 1990.


Confira a matéria original no site AthosGLS.

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segunda-feira, 22 de junho de 2009

"Homens casados saem com travestis quando querem ser crueis", afirma Keila Simpson

Por Thiago Tomaz 22/6/2009 - 16:33
Para o site A Capa


Keila Simpson comandou a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) por quatro anos. Nesse período, deu passos largos na luta pelo direito à cidadania. Entre as conquistas, segundo a ativista "pequenas, mas fundamentais", estão as parcerias com o Ministério da Saúde e da Educação e a criação de portarias, como a da utilização do nome social dentro do SUS e a autorização das cirurgias de readequação sexual.

Assumidamente travesti, Keila explicou em entrevista ao A Capa, a diferença entre ser travesti ou transexual, sugeriu medidas para a diminuição do preconceito e atribuiu ao Estado a culpa pela marginalização do grupo no país.

Como você avalia sua gestão dentro da ANTRA?
A ANTRA nasceu em 1993 e se consolidou em 2000, mas foi só a partir de 2004 que conseguiu ser reconhecida e se tornar referência como uma rede que abrigasse travestis e transexuais. Dentro da nossa instituição, mantemos 62 meninas. Essas travestis passaram a ter mais responsabilidade e um protagonismo maior. Na minha gestão, conseguimos articular com algumas secretarias de difícil acesso. Por exemplo a de educação, o próprio Ministério da Saúde. Hoje, a gente tem um diálogo grande com o programa nacional DST/Aids, firmamos um diálogo mais franco e formal com o Ministro da Saúde [José Gomes Temporão] e estamos consolidando uma parceria mais efetiva com o Ministério da Educação. O meu grande legado foi ter tentado e conseguido colocar a associação no cenário nacional.

A portaria 675, que autoriza a utilização do nome social por travestis e transexuais dentro do SUS, está sendo colocada em prática?
Ela está sendo executada. Qualquer travesti ou transexual que queira ou precise adentrar ao Sistema Único de Saúde (SUS), pode utilizar o nome social. Foi uma reivindicação antiga do movimento, que só foi colocada em prática graças à nova postura da ANTRA.

Qual é a principal reivindicação da transexuais e travestis hoje?
Ficou definido na última reunião que precisamos criar algumas bandeiras de luta para avançar. Uma das que a gente elencou como principal é a questão da alteração do nome. A gente já está em consonância com outros movimentos, para que a população de transexuais e travestis seja definida segundo a sua identidade social e não a civil. Então o meu empenho, juntamente com o da ANTRA nesse momento é conseguir colocar o nome social, seja junto ao nome de registro, seja sozinho.

Por que a alteração do prenome é tão importante para vocês?
A alteração do prenome vai nos fazer sentir cidadãs e é a partir desse sentimento que nós vamos conseguir vencer as outras barreiras. Se conseguirmos essa alteração, será um avanço de quem não tem nada e vai ter alguma coisa. Mas, o nosso trabalho não acaba aí, pelo contrário, ele está só começando.

A marginalização das transexuais e travestis continua grande?
Quando você pensa em travesti, você já vê logo o lado sexual da história, você não imagina que tem travestis que estão nas universidades e nas escolas técnicas se formando, sendo profissionais liberais, tendo profissões autônomas. Essas nunca constam nas estatísticas ou nos números que aparecem. A prostituição não é de todo má, mas nós podemos ter outras formas de ganhar a vida. As pessoas precisam abrir o leque e nos ver de uma forma mais ampla, caso contrário seremos sempre marginalizadas não só por nossa culpa, mas também por culpa do Estado. Se as travestis tivessem uma escola sensibilizada e acessível, tivessem familiares conscientes, que respeitassem a sua orientação sexual e identidade de gênero, elas iriam estudar e viver com a família ao invés de sair de casa.

Esses programas de inclusão de transexuais e travestis no mercado de trabalho, começa a alterar esse imaginário das pessoas?
Sim. Abre-se outra frente de trabalho. Até então, para as grandes populações de travestis e transexuais só era relegado quando não a prostituição, serviços de cabeleireiros, e outros trabalhos ligados à estética feminina.

Que dificuldades as transexuais e travestis encontram quando decidem estudar?
A escola não está habituada a ter pessoas com nome de registro masculinos e indumentárias femininas no seu corpo, isso precisa ser trabalhado. Como é trabalhado? Mobilizando o Ministério da Educação e as escolas. Quem faz isso? Gestores públicos da educação e movimento social. Quando nós conseguirmos mobilizar essas escolas para que elas se tornem um lugar aprazível e respeitoso, esses centros educacionais serão mais povoados de travestis e transexuais.

No dia 29 de janeiro passado, a ANTRA fez uma grande campanha nacional, para visibilizar a questão da criação de portarias para a utilização do nome social no âmbito da educação. O estado do Pará publicou a sua, o estado de Goiás também e Paraná e Minas Gerais estão com o Conselho de Educação sinalizado para a criação dessas portarias. Isso já é um avanço significativo.

O que é preciso ser feito para diminuir o preconceito?
É preciso primeiro a gente conscientizar a sociedade de uma maneira geral que é a vida do outro que está em questão e se alguém pede alguma coisa, é por que tem necessidade. Então, se a gente está pedindo a alteração do prenome para nos tornarmos cidadãs, é por que faz falta. Isso não vai fazer interferência na vida do outro. Pra mim ela é fundamental, para os outros não. Então por que as pessoas têm que se preocupar com o que está me incomodando?

Qual a diferença entre transexual e travesti?
Aí você me coloca numa sinuca de bico. Eu tenho receio de te falar de uma forma e genitalizar. Basicamente o que precisa ser visto é que, travestis vivem tranquila e naturalmente com sua composição corpo e mente. Já no caso das transexuais, o sexo psicológico difere do biológico e é preciso fazer uma correção, uma cirurgia.

Como as travestis e transexuais são vistas pelos homens heterossexuais?
A gente pergunta aos próprios homens que temos relacionamentos. Vamos sair, eu você e outro rapaz? Às vezes fazemos esse tipo de brincadeira, de questionamento e eles respondem: "Não, eu gosto de sair com mulher". Logo, eles nos percebem como mulher. Tenho uma tese que eu sempre defendo que é a seguinte: um homem heterossexual casado faz sexo com a sua mulher de uma maneira bem tranquila e quando ele quer transgredir um pouco, ele procura uma prostituta. Agora quando ele quer partir para o irracional, ele procura uma travesti. Porque com a mulher ele tem um pouco de pudor, com a prostituta ele vai até certo limite, mas quando ele quer ser cruel ele procura uma travesti.

Como você vê a travesti que se prostitui?
No meu entendimento, a travesti que está na rua, na prostituição, ela não precisaria ter nome e nem sexo. Ela é completamente abstrata, um instrumento de prazer, que prova e dá prazer. Muitos homens entendem que na prostituição elas estão nesse contexto.

Veja a matéria original, no site A Capa.
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Edson Celulari encarna personagem feminino que já foi de John Travolta

Versão emplumada
22/6/2009

Do site Mix Brasil
Por Redação

Foto: Divulgação


O ator Edson Celulari está prontinho para arrasar no picumã e no figurino cheio de plumas. Ele encarna a personagem Edna Turnblad no musical "Hairspray", que estreia no Rio de Janeiro em 10 de julho. Celulari interpreta a mesma personagem que John Travolta fez na versão cinematográfica do espetáculo.

Na versão tupiniquim o brasileiro trocou os paetês usados por Travolta e investiu nas plumas. Ficou até convicente, não?

"Hairspray" fica em cartaz no Teatro Oi Casa Grande, no Leblon, com versão e direção de Miguel Falabella.


Confiram a notícia original no site Mix Brasil.

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domingo, 21 de junho de 2009

De onde vem a homofobia – Por Denise Deschamps

homofobia_crime1Cabe na análise deste tipo de comportamento averiguar o contexto no qual se manifesta e, além disso, investigar os conflitos intrapesssoais que a atitude possa ocultar


Refletir sobre a questão da homofobia requer sempre certa contextualização cultural. O comportamento surge como manifestação individual, mas tem seus instituintes fortemente assentados na cultura onde se inscreve, assim como a manifestação de outros comportamentos, também regulados por um intricado sistema de normas sociais.


Em nossa cultura – que supomos ser de base heteronormativa e heterocêntrica –, a questão geralmente se apresenta de maneira bastante evidenciada. Pais vigiam seus filhos desde muito cedo, observando atitudes que possam apontar uma possível homoafetividade e não hesitam, inclusive, em reprimir algumas manifestações de afeto e outras próprias do desenvolvimento psicossexual de todo sujeito em formação. Dentro dessas características, agregadas a uma cultura conceituada por Gregory Zilboorg como falocêntrica, ocorre extrema vigilância sobre comportamentos identificados como indicadores de homossexualidade. Serão muito mais atacados aqueles que dizem respeito ao gênero masculino, aos meninos em formação, sendo que, nesse aspecto, as identificações de gênero para as mulheres são um pouco mais flexíveis. Torna-se importante, neste momento, isolar alguns conceitos que hoje em estudo mostram diferenciações *:


- sexo biológico;
- identidade sexual – Também conhecida por identidade de gênero;
- papéis sexuais – Também conhecidos por expressão de gênero;
- orientação sexual – Simplificação da expressão e orientação sexual do desejo;
- comportamento sexual – Não corresponde necessariamente à orientação sexual do desejo;
- prática sexual – Diz respeito ao ato sexual propriamente.


Hoje é consenso que essas diferenciações, ao se abordar a homossexualidade, sejam algo de suma importância. Por isso devem ser consideradas quando um profissional do campo psi é chamado para lidar com essa questão, seja teoricamente ou na prática clínica. E por qual motivo isso nos interessa? O foco de nossa análise ficará mais bem delimitado olhando-se a partir dessas possíveis manifestações. Um sujeito homoafetivo poderá não apresentar para seu meio social nenhum indicador de sua orientação sexual, mesmo que a exerça em sua prática sexual, portanto não apresentando nenhuma manifestação quanto à identidade de gênero ou papel sexual que sejam diferentes das manifestações aceitas para o seu sexo biológico. Outras vezes esse campo se confunde e o sujeito poderá dar-se conta de sua orientação sexual e, no entanto, manter a prática sexual e o comportamento sexual ligados a outra orientação, heterossexual. Esse tipo de atitude, via de regra, levará esse sujeito a grande fragmentação e vivência de intenso sofrimento. A trajetória até aí não é das mais simples e diz respeito àquilo que denominamos como homofobia internalizada.


Em alguns casos, a homofobia internalizada poderá ganhar contornos de uma manifestação projetiva e apresentar-se ao mundo externo como perseguição ao objeto temido. Nesta situação o sujeito desenvolve toda uma estratégia de perseguição à homossexualidade. Isto é muito observado em grupos organizados, tais como os de cunho religioso ou mesmo militares, como pudemos acompanhar recentemente pelos noticiários que mostraram a perseguição sofrida pelos militares Laci Marinho de Araújo e seu companheiro Fernando Alcântara de Figueiredo. Ao assumirem seu relacionamento, ambos atraíram para si toda uma estratégia punitiva por parte da instituição à qual pertencem.


Sem o aval da Psicanálise
A transexualidade e o travestismo exigem capítulo à parte, mas que para o que abordaremos aqui não necessariamente será preciso elucidar as diferenciações, porque pensamos que a homofobia se caracteriza pela dificuldade em lidar com tudo que não seja heterossexual, no sentido biológico que caracterizaria essa definição.


O campo psi tem sido, então, solicitado para legitimar ou não a questão do “desvio” em relação à homossexualidade. Embora se acuse a Psicanálise freudiana de fornecer embasamento para essa prática, isso na verdade mostra um desconhecimento quanto ao que seu fundador, Sigmund Freud, pôde postular sobre o tema ainda em pleno desenvolvimento de sua teoria, quando retira da questão homoafetiva qualquer noção de desvio e a coloca como uma das possibilidades esperadas da corrente da libido. Isto fica bastante claro na famosa carta resposta “À uma mãe americana”, que o consultou a respeito da possível homossexualidade de seu filho. Disse Freud:


“O homossexualismo (leia-se hoje como homossexualidade) não é vício nem degradação. Não pode ser classificado como doença”


Toda teoria que envolve o Complexo de Édipo, elaborada finalmente por Freud, aponta para aquilo que será chamado de Édipo Completo e que investe nas duas direções (figuras parentais masculinas e femininas), até que fatores diversos e ainda não totalmente entendidos apontem para a orientação que ficará como predominante, porém nunca totalmente excludente da outra. Freud partiu da crença em uma bissexualidade constitucional, ou seja, por “natureza” seríamos todos originalmente bissexuais. Pensamos que seja justamente a forma de lidar com essa constituição e suas manifestações na infância que determinarão também os comportamentos homofóbicos na vida adulta, respaldados na dificuldade em lidar com seus componentes homoafetivos recalcados.


Já em 1970 a American Pshycology Association deixou de considerar a homossexualidade como doença e perversão. E o nosso Conselho Federal de Medicina, desde 1985, assim como a Organização Mundial de Saúde, a partir de 1993, excluíram do quadro de patologias a homossexualidade. No Brasil o Conselho Federal de Psicologia seguiu o exemplo em 1999 (nº01/99) e contemplou definitivamente a questão no Código de Ética do Profissional em Psicologia, aprovado em agosto de 2005. Todas essas resoluções são importantes no sentido de retirar das mãos do campo psi, aquilo que a Dra. Hevelyn Hoocker, conceituada psicológa norte-americana dos anos 1940, havia apontado como os “cães de guarda da moral dominante”, por medicar a prática homoafetiva e substituir toda perseguição policial e religiosa perpetrada nos séculos anteriores.


Em prol da diversidade humana
Pensar na diversidade sexual como algo que faz parte da nossa humanidade é combater toda e qualquer prática da homofobia no meio social, prática essa muitas vezes exercida de forma velada, mas em algumas situações peculiares expressa com extrema violência e perseguição. Partimos do fato de que a homofobia é um mal que atinge tanto os heterossexuais quanto os homossexuais, que a exercerão contra seu próprio organismo, muitas vezes estabelecendo um quadro de profunda depressão que alimenta a alta taxa de suicídios existente dentro desse segmento da população.


Parafraseando uma campanha feita alguns anos atrás a respeito do racismo, podemos perguntar: “– Onde você coloca sua homofobia?”. Pensamos que a resposta mais sensata seria: “Em lugar algum, jogo fora”.


Porém, é certo que não podemos tratar a questão sem retirá-la do seu lugar de “não-dito”. É preciso trazer para o debate suas manifestações, onde isso puder ser colocado, abrir janelas e portas, lançar luz à questão. É inegável que este é um traço de nossa cultura brasileira machista. Por conta disso, nenhum de nós encontra-se imune a ela, não importa se sejamos hetero ou homossexuais, pois o comportamento homofóbico poderá se apresentar sem grandes diferenciações e ser corrosivo da mesma forma, não importando em quem esteja instalado este traço. São as graves conseqüências deste tipo de atitude que ensejam pensar na proposta de criminalizar todo e qualquer tipo de práticas homofóbicas, como já está previsto no projeto de lei (PL) 122 que tramita no Congresso. Da mesma forma, no âmbito de todo conhecimento psi, devemos tratá-las com a compreensão de serem manifestação de um conflito psíquico.


Pelas madrugadas dos grandes centros urbanos brasileiros muita violência é produzida em torno da homossexualidade. Algumas dessas ações ganham o noticiário, mas é comum serem tratadas com certa complacência por grande parte da população, que se apóia nos componentes homofóbicos inscritos em nossa cultura heterocêntrica. Esse tipo de situação precisa ser questionado e combatido com informação e formação. O campo psi não poderá fugir a esse debate e os profissionais que se pronunciam a respeito dessa questão não podem perder de vista seu dever ético, devendo ficar atentos a tudo que até agora o universo científico já produziu com estudos sobre a sexualidade humana. Atualmente os movimentos de afirmação homossexual propõem, de maneira combativa, a localização da “questão homossexual” no campo dos direitos humanos.


Identidade de gênero
Para a Psicanálise a questão da construção dessas identificações (masculina, feminina), assim como os investimentos objetais (homo ou heterossexuais) passam necessariamente por uma leitura do Édipo, pelo qual se entende que, ao vivenciá-lo, tanto meninos quanto as meninas produzirão caminhos para essas escolhas. Como já foi dito aqui anteriormente, nos dias de hoje se fala em um Édipo Completo, nada parecido com o que popularmente se sabe sobre esse complexo e que é erroneamente propagado em revistas e publicações reducionistas. O Édipo, segundo o método apontado pela teoria freudiana, seria um fenômeno universal, aconteceria em todo ser humano inscrito em qualquer cultura, tendo no tabu do incesto seu principal postulado.


Meninos e meninas em nossa cultura têm como primeiro objeto de amor aquilo que formará sua matriz das relações, a mãe. Partem, então, ambos, tanto menino quanto menina, de um mesmo ponto. Teríamos em seguida o segundo apontamento fundamental do método psicanalítico, que seria o Complexo de Castração, que resolverá o Édipo do menino e, para a menina, o lançará nele, ou seja, na situação triangular de investimento. Nos dois casos, meninos e meninas, os investimentos e identificações serão feitos nos dois sentidos, formando uma amálgama difícil de separar, mas de qualquer maneira, já poderemos observar na saída do Édipo e entrada no chamado período de latência uma predominância tanto para a identificação de gênero quanto para o investimento no objeto sexual. Mas então virá o período de latência, no qual há certa retração da libido de objeto, que só retornará com força, então, com a primazia do genital, na adolescência.


Durante o período de latência as relações são fortemente marcadas pelas identificações de gênero, formando aquilo que conhecemos como os famosos “clube do Bolinha” e “Clube da Luluzinha”. Existirá, inclusive, certa hostilidade entre gêneros. Vejam, que abordada dessa maneira mais completa, o Complexo de Édipo não deixa margem para servir de respaldo para quaisquer justificativas de patologização de sua existência. A diversidade sexual é amplamente amparada pela teoria psicanalítica. Sabemos bem que o que determina uma sexualidade hetero ou homoafetiva ainda não está totalmente esclarecido, e durante a fase do Complexo de Édipo isso encontraria seu principal objeto de investimento, nunca, porém, totalmente excludente.


A homofobia hoje é como uma “peste emocional” que deve ser combatida de todas as formas, sob pena de continuarmos construindo uma sociedade apoiada em valores normativos excludentes, não acolhendo a diversidade que fala do humano, de tudo que se move em direção a uma construção do diferente como parte do que forma o tecido social. Não cabe a nenhuma corrente científica fornecer argumentação para esse equívoco. Os grupos religiosos já constroem argumentações suficientes para nos horrorizarmos com essa prática, sendo a maioria de suas argumentações totalmente destituídas de qualquer valor, mesmo que olhemos pela questão moral. Hoje sabemos que devemos ter como orientadora a construção de algo que passe por uma ética, e nunca pela moralidade, que tende a se apoiar em crenças dominantes, defendendo o que há de mais retrógrado nas instituições sociais.


1- Artigo publicado na Revista Psiquê Ciência e Vida edição 32


2 – Fonte: Análisis de conceptos abstractos e práticas concretas de la sexualidad para la psicologia contemporánea. Mario Chimazurra y Veriano Terto – Ed. Madrid 2006.

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Texto original publicado no blog de Eduardo J. S. Honorato:

http://eduhonorato.wordpress.com/2009/06/20/de-onde-vem-a-homofobia-%E2%80%93-por-denise-deschamps/


Ao qual tivemos acesso por meio da comunidade Homofobia - Já Era, no Orkut:

http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=65754&tid=5349386607596726680

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*** Eduardo J. S. Honorato - Psicólogo e Psicanalista, pós-graduando em Saude da Familia e Docência Superior. Atua em consultorio particular em Manaus.


*** Denise Deschamps – Psicóloga com formação em Psicanálise, Socio-Análise e Clínica Infantil – IBRAPSI/RJ; Formação em Psicoterapia de grupos- “Ateliê de Emoções”- Psicólogos Associados; Supervisora Clínica em Psicanálise.


Ambos coordenam o site www.cinematerapia.psc.br e as comunidades Psicologia e Cinematerapia no Orkut

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sexta-feira, 19 de junho de 2009

Como desenvolver uma voz feminina

Por Melanie Anne Phillips
Texto em inglês - http://heartcorps.com/journeys/voice.htm


Nada chama tanta atenção quanto uma voz que não combina com a aparência. Muitas CDs (crossdressers) vestem-se divinamente e assemelham-se a deusas... até abrirem a boca. De repente, apesar da graça e curvas elas se transformam em caminhoneiros, ou algo parecido, diante dos olhos das outras pessoas. Pode ser que as roupas façam o homem, mas é a voz que faz a mulher.

É essencial para quem é CD ou TS (transsexual) desenvolver uma verdadeira voz FEMININA – e não simplesmente uma voz afeminada. Quando comecei minha transição tinha de me preocupar com eletrólise, "hominismos" (maneiras masculinas de se comportar) mas era a voz que eu acreditava ser o maior obstáculo.


Como a maior parte das pessoas tentei simplesmente afeminar minha voz amaciando-a. Tentei elevar meu tom artificialmente chegando naquele falseto horrível que forma o estereótipo do travesti marcando-o como caricatura ao invés do que ele realmente é. Cheguei mesmo a considerar a cirurgia de cordas vocais a última alternativa.


A cirurgia vocal me deixava receosa. Eu tinha uma voz bonita, gosto de imitar vozes e gostava de parecer dramática quando falava. Mas o pensamento de ser descoberta a cada vez que pronunciasse uma palavra foi suficiente para considerar uma cirurgia vocal, mesmo sabendo que alguns dos resultados que ouvi não terem sido muito convincentes e ter ouvido histórias horríveis daqueles que perderam completamente suas vozes em função de tais cirurgias.


Eu já tinha me resignado a correr este risco quando deparei-me com algo, totalmente por acaso, que mudou drasticamente minha carreira e meus relacionamentos: aprendi a ter uma voz feminina.


Repare que não disse "falar como mulher" e sim "ter uma voz feminina". Isto porque o segredo que descobri não está na maneira de falar e sim na de ser ouvida. Naquele dia (como em vários outros) experimentei fazer vozes diferentes às vezes tentando parecer uma adolescente estridente, outras vezes como uma madura matrona. Lutei por semanas sem obter sucesso em soltar a voz. Então em um belo dia, de repente, algo aconteceu. Minha voz "escorregou alguns degraus" e veio parar em um local onde jamais estivera.


De repente, de supetão, o TIMBRE da minha voz tinha se tornado feminino. Não podia acreditar! Eu estava realmente SOANDO feminina. Dizia frases e TUDO soava feminino. Era incrível! Depois de todos os meus medos e preocupações... Foi quase como ser magicamente transformada em mulher!


Estava perto do fim do expediente quando isto ocorreu. Naquele momento eu estava trabalhando como Melanie, mas ainda indo para a casa (vivia com esposa e filhos) como Dave. Meus filhos ainda não sabiam da transição. Por isso a cada noite, no fim do expediente, tirava o esmalte e a maquiagem, mudava de roupas e ia para casa. Então decidi que era hora de voltar a ter minha "triste" voz e fazer as vezes de Dave. Mas, ao tentar, não pude encontrar minha antiga voz. Tentei novamente – nada! De repente senti que realmente TINHA sido transformada! Que algo tinha mudado a minha caixa vocal para uma forma feminina. Mas isso seria terrível!!! Minha esposa iria me matar!


Depois de meia hora de malsucedidas tentativas de sair daquela voz, nada mais me restava a fazer, senão ser encarar os fatos. Fui para casa, entrei. Mary disse: "Como foi seu dia?" Respondi "Bom", mas não era a voz do Dave e sim a da Melanie e Mary percebeu.


"O que há com sua voz?!", ela perguntou. Expliquei o que tinha acontecido e como tinha ficado preso nela. Ela me disse que seria bom eu imaginar uma maneira de conseguir fazer voltar minha voz antiga antes das crianças acordarem pela manhã. Fiz o que pude sem sucesso. Então, ao cabo de uma hora, mais ou menos, minha voz relaxou e a antiga voltou. Estava salva!!! Então me preocupei em não falar daquele jeito novamente. No final das contas, tinha ocorrido por acaso e eu de fato não sabia o que tinha provocado. Inicialmente, tinha PERDIDO minha nova voz. Mas então encontrei-a novamente e pratiquei, pratiquei pelo resto da noite como fazê-la entrar e sair.


Na manhã seguinte, a primeira coisa que fiz ao acordar foi tentar encontrar minha nova voz novamente e lá estava ela, ao meu comando! Nos meses que se seguiram trabalhei nos pontos finos da minha voz, adicionando os elementos incidentais que afetavam, não somente o som, mas na maneira de eu falar. E agora, quatro anos depois do ocorrido e dois anos depois de minha cirurgia posso afirmar que minha voz vai bem. Desejando, posso fazê-la entrar e sair quando quiser. Essa voz foi crucial no desenvolvimento da minha carreira, relacionamentos e, acima de tudo, minha voz feminina ajudou a desenvolver meu senso de identidade como Melanie.


Neste texto compartilharei com vocês como fiz e fornecerei todos os passos que você precisa para encontrar sua própria voz feminina.


Para iniciar, olhando para o caminho que tive de trilhar, descobri sete ferramentas importantes para o desenvolvimento de uma voz feminina. Seis delas trabalham na feminilidade mas o sétima é o segredo que, efetivamente, faz com que alguém SOE feminino. Descreverei-as brevemente e em seguida falaremos delas em detalhes. As sete ferramentas são: Tom, Ressonância, Alcance Dinâmico, Enunciação, Vocabulário, Gramática e Português Corporal.


TOM:


A maior parte das pessoas supõe que a diferença essencial entre homens e mulheres é o tom da voz. No entanto, devemos notar que a diferença dos tons entre os sexos é mínima. De fato, a sobreposição da variação entre os sexos permite para praticamente QUALQUER indivíduo seja aceito dentro das normas comuns de tons.


RESSONÂNCIA:


A ressonância é o verdadeiro segredo deste método. Ressonância é a modulação do tom que você tem, qualquer seja ele. É o invólucro da voz que dá o tom e determina o timbre. No decorrer deste texto descreverei um exercício simples que todos podem fazer para encontrar o local específico da sua voz e desenvolver uma verdadeira ressonância FEMININA.


ALCANCE DINÂMICO:


O Alcance Dinâmico descreve a diferença entre o mais alto dos altos e o mais baixo dos baixos que uma pessoa usa quando fala. Os homens usam um Alcance Dinâmico muito limitado, mesmo sendo capazes de estender muito esse alcance. É uma simples questão de treino e não de fisiologia. Mulheres, por outro lado, usam um Alcance Dinâmico muito AMPLO, o que dá para suas vozes um efeito cantante.


ENUNCIAÇÃO:


Enunciação é a maneira que você pronuncia as palavras. Da mesma forma que pessoas falam em dialetos, há um dialeto feminino que transcende linguagens e culturas. Descreverei maneiras para desenvolver uma enunciação totalmente feminina.


VOCABULÁRIO:


Sim. Há palavras masculinas e femininas. Em nossa cultura, certas palavras são quase que exclusivamente reservadas para homens e outras para mulheres. Abordarei algumas dessas e mostrarei como você pode descobrir outras.


GRAMÁTICA:


Ser masculino ou feminino tem muito a ver com a força da expressão. Quando alguém forma frases, a ORDEM das palavras muda a posição de "poder" de quem está falando. Olharemos diferentes meios para adotar o "nível de poder" apropriado para cada sexo.


PORTUGUÊS CORPORAL:


O português corporal é a maneira que você se move enquanto fala. De fato, ele exerce um verdadeiro impacto na forma como a voz soa. Usar o adequado português corporal ao falar, torna-lhe apta a incrementar a feminilidade da sua voz – mesmo ao telefone!


Agora que tivemos uma visão geral do que será abordado vamos nos aprofundar na primeira destas áreas.


TOM


O que Susanne Pleshette, Marlene Dietrich, Cher e Bea Arthur têm em comum? Todas elas têm vozes MUITO graves! De fato, elas têm vozes de tom mais BAIXO do que a maior parte da população masculina. Contudo, jamais as confundiríamos com homens! De fato, pelo menos três dessas quatro são, ao invés disso, geralmente consideradas como sexy. Quando as mulheres têm vozes graves não são por isso consideras masculinas. Suas vozes são simplesmente consideradas "roucas".


Como pode? É porque a diferença entre a média da voz masculina e a média da voz feminina é de apenas ½ oitava. É isso mesmo! Somente ½ oitava. Não é o tom que faz alguém ter a voz feminina e sim a ressonância!


Pelo fato de cada um de nós ter uma voz que varie de pelo menos 1½ oitava e muitos de nós variamos de até 2 oitavas ou mais, há muita sobreposição entre os tons de ambos os sexos se há uma diferença MÉDIA de apenas ½ oitava. Isto significa que há somente ½ oitava mais alta que alguma mulher pode fazer que nenhum homem pode e que há ½ oitava mais baixa que algum homem pode fazer que nenhuma mulher pode.


Minha voz agora é somente 2 ou 3 notas mais alta na escala do que era antes. Mas o impacto audível é bastante diferente. Isto ocorre porque não importa quão ALTO seja o tom da sua voz, e sim DE ONDE ele vem o que faz toda a diferença! Uma vez que você tem sua voz vindo do local certo, não importa absolutamente qual é o tom dela. Além disso, com o segredo da ressonância que descobriremos, você ganha 2 ou 3 notas (o que, apesar de não ser crucial, não dói!).


Vamos então para o próximo tópico sem mais delongas!


RESSONÂNCIA


O que é ressonância? Imagine uma orquestra. Agora imagine a mesma nota sendo tocada por um violino, um trompete e um oboé. Todos eles têm sons diferentes, mesmo tocando a mesma nota. Isto porque o tom que eles tocam é modulado diferentemente. Cada um deles tem sua própria ressonância única.


Em um trompete a ressonância é criada por molas. Já no violino ou violoncelo ela é criada no corpo. O corpo é a câmara na qual o som pode vibrar mixado e intermixado para criar formas de onda complexas com várias harmônicas identificadas.


A câmara é como sua própria caixa vocal. Homens têm uma caixa vocal maior. É o que faz com que seus pomos-de-Adão sejam maiores e suas vozes adquiram maior ressonância baixa. Mulheres têm uma caixa vocal menor e o resultado é uma ressonância mais alta. Portanto, em certo sentido, os homens têm MAIS harmônicas que as mulheres. É uma sorte para os homens que querem ter voz feminina. O truque consiste em aprender a usar MENOS a voz. Você já tem isso. Você já está usando isso. Não é algo que você tenha de adquirir para ter uma voz feminina, mas algo que você precisa suprimir. O problema é que quando os homens fazem um falseto eles suprimem todas as harmônicas resultando naquela voz alta estridente e boba que certamente é um tremendo convite à desistência.


Vamos fazer um experimento para descobrir algo mais sobre nossa voz. Ponha os dedos de uma mão no topo de sua laringe, no alto do seu pomo-de-Adão. Coloque os dedos da outra mão na parte mais baixa de sua laringe, abaixo do seu pomo-de-Adão. Agora fale alto com sua voz masculina normal. Você verá que ambas as partes, superior E inferior da laringe vibram quase que igualmente quando você fala.


Mantendo os dedos no local, fale em falseto. Você verá que não há qualquer vibração firme, TANTO NO topo, QUANTO NA base! O exercício que estamos aprendendo irá lhe permitir criar a voz que vibra SOMENTE na base e NÃO no topo. Isto efetivamente corta no meio a parte da caixa vocal e com isso perde-se as harmônicas mais baixas, deixando-se quase que EXATAMENTE o mesmo padrão de harmônicas de uma voz feminina genética.


EXERCÍCIO:


A voz feminina que descobri parece estar por trás da sua voz normal. Depois de tê-la usado por um tempo descobri que havia duas maneiras fáceis para colocá-la naquele local. Um local para o qual sua voz normalmente não vai quando você está falando. A primeira forma é o falseto e a segunda é gargarejando.


A: FALSETO:


Comece pelo seu falseto mais alto. Se você se assemelha a um personagem de quadrinhos com orelhas grandes e redondas que vive em Anaheim, você conseguiu. Agora traga a voz para baixo, o mais que puder SEM INTERROMPÊ-LA. Perceba que se quebrar a voz, ela "sairá pela frente" novamente e você estará usando a caixa vocal completa para a modulação – exatamente o que você não quer.


Abaixe sua voz o máximo que puder em um falseto. Este é o local. Você irá perceber que nem o topo nem a base da sua laringe está vibrando muito, se é que estão vibrando. Agora, antes de explicar o que fazer, uma vez que você chegou no ponto, vamos examinar o outro método de chegar lá. Tentando os dois você terá um senso melhor, uma "referência cruzada" de onde sua voz precisa estar.


B: GARGAREJANDO:


Faça com sua garganta da forma que faz quando gargareja e faça aquele som característico do gargarejar. Ao fazê-lo irá automaticamente apertar sua garganta para cima. Você verá que sua voz esta ressoando exatamente no mesmo local, só que com o falseto mais baixo ou o gargarejar. Contudo, gargarejando, você realmente perceberá que vibra tanto o topo quanto a base da sua laringe.


O ponto que queremos atingir com essa voz é o centro entre onde você põe a voz para gargarejar e o falseto mais baixo que você atingiu. Algumas pessoas gostam de imitar vozes por diversão. Se você consegue imitar um velho ou uma velha está bem próximo do objetivo.


Como mencionei anteriormente, a primeira vez que encontrei esta voz foi por acaso. E fiquei travada nela. Portanto, se você tentar este exercício e não viver por tempo integral como mulher, saiba que pode ser que você precise de aproximadamente uma hora para encontrar o caminho de volta para sua voz masculina.


Na verdade, o que você está aprendendo agora é a desenvolver uma determinada quantidade de músculos na sua laringe enquanto deixa outra de lado. Isto é uma espécie de truque, da mesmo tipo daqueles de mexer as orelhas ou dar palmadas na cabeça enquanto esfrega a barriga. É necessário prática – MUITA prática.


Mas não pratique em demasia no início. Encontrar a voz é uma experiência mágica da qual você não quer abrir mão. Você verá que deixar a parte baixa dos músculos fazer todo o trabalho inicialmente leva à rouquidão. Essa é a maneira do seu corpo te dizer que você deve fazer uma pausa. Percebi que durante a primeira semana em que usei esta voz, não podia fazê-lo por mais de meia hora, pouco mais ou menos, sem ficar rouca. Então tive o bom senso de deixar minha voz descansar. Da mesma forma que com os exercícios para o corpo, você não pode fazer muito ou muito rápido para não se machucar.


No meu caso o desenvolvimento completo da minha voz ao ponto em que pude usá-la durante o dia inteiro levou cerca de seis meses. Então, foram outros seis meses necessários para o desenvolvimento completo do nível de baixos e do Alcance Dinâmico. Mas estas coisas vêm com prática e paciência. Imagino que, eventualmente, os outros músculos do topo possam se atrofiar, se, como eu, você não usá-los mais. Contudo, para aqueles que alternam entre uma voz e outra, ambas estarão no tom e, como eu, mesmo depois de quatro anos, ainda poderão "chamar" a velha voz de volta quando desejarem. Para mim, isto ocorreu uma vez há cerca de uma ano quando precisei demonstrar a um amigo que é possível de se fazer isso.


Portanto não force. Não sou médica. Não posso dizer exatamente o que ocorre fisicamente, nem posso garantir que esta mudança não causará problemas. Posso unicamente dizer que tenho usado esta voz por mais de quatro anos sem aparentar efeitos malignos.


ALCANCE DINÂMICO


Quando comecei a usar minha voz feminina os músculos estavam desenvolvidos apenas o suficiente para criar um som bastante monótono. Levou seis meses para que eu adquirisse efetivamente um bom Alcance Dinâmico.


Conforme mencionado anteriormente, O Alcance Dinâmico é a diferença entre o mais alto e o mais baixo pico usados na conversação. As mulheres usam esta variação para dar ênfase na sua conversa. Ele dá um significado extra nas palavras através de "picos".


Os homens usam uma técnica diferente para dar ênfase: eles falam mais grosso ou macio dentro de uma determinada variação de tons. Portanto, na conversação, um homem irá "socar" algumas palavras e segurar outras. Desta forma eles "fazem seus pontos". Em contraste, mulheres irão abaixar e diminuir o tom enquanto mantém a mesma amplitude ou nível de graves. Isto constitui uma diferença significativa entre padrões de linguagem e é uma chave de identificação entre uma personalidade masculina ou feminina. Tenha em mente que mulheres masculinas adotarão uma aproximação monotônica do nível de baixos, enquanto homens femininos subirão e cairão em tonalidade sem variar a amplitude.


Você perceberá a diferença da forma das mulheres falar quando fala com elas pelo telefone. Se você é homem e liga para uma firma onde atende a recepcionista, a voz dela estará alta na escala, o que quer demonstrar jovialidade e acolhimento. Ouvindo um homem ela manterá a voz à altura do pico. Mas se uma mulher ligar para a mesma recepcionista, ela atenderá da mesma forma, porém percebendo que está falando com uma mulher, baixará o tom.


Isto ocorre porque os homens controlam o poder no mundo, sobretudo nos negócios. Em conseqüência disso, a menos que não seja simpática por natureza, você não quererá aparentar ser mal educada, não é? Nos negócios, os homens competem entre si e também com as mulheres com quem lidam. Contudo, visto que os homens tem de se unir para conseguir seus objetivos em um mundo masculino, eles precisam fazer uma conspiração.


Homens nos negócios é competição, mulheres nos negócios é conspiração. E esta diferença, na abordagem e status é refletida na variação tonal alta ou baixa que uma mulher adota dependendo do gênero do seu interlocutor. Similarmente, se uma mulher falar como homem usando amplitude e os solavancos característicos para modular sua voz, a interlocutora ou a mulher "normal" irá manter sua voz alta para mostrar que ela não constitui ameaça.


Agora isto é facilmente visto nas mulheres porque elas usam um Alcance Dinâmico mais amplo. Mas, será que você já notou como a voz de um homem sobe algumas notas quando ele teme que um superior está chateado com ele?


Agora outro aspecto do Alcance Dinâmico são os "degraus de tonalidade". O que quero dizer com isso é que a mulher ata cada grupo de várias palavras em uma frase, comumente duas palavras não são ditas da mesma maneira. Isto é o que faz com que as vozes das mulheres soem tão "cantantes". De fato, elas ESTÃO cantando!


Às vezes os degraus descem até um tom conspiratório. Outras vezes sobem até atingir um nível emocional. Freqüentemente elas sobem e caem como fortes ondas no mar a golpearem uma frase, então voltam a ser como marolas na areia. Falar em degraus de tonalidade é melhor aprendido ao se ouvir os outros, mas é aprendido, não intrínseco. Assim como o Alcance Dinâmico, é mais uma função de condicionamento do que biológica.


Portanto, o Alcance Dinâmico é, efetivamente, antes uma questão de masculinidade/feminilidade do que uma questão de se ser homem/mulher. Contudo como aprender, é melhor explicado no nosso próximo tópico.


ENUNCIAÇÃO


Anunciação descreve a forma pela qual as palavras são reproduzidas. Os homens aprendem a desenvolver antes a denotação à conotação. Em outras palavras, os homens fazem o trabalho o mais rápido possível. Falando, eles aparam os cantos das palavras deixando-as como ondas quadradas, cortam-nas como se estivessem talhando cenouras.


Na feminilidade, pelo contrário, enfatiza-se uma maior conotação. Uma mulher não está tão preocupada com o significado de uma palavra quanto com o seu contexto, e este contexto é expresso em mais fluxo, graça e maneiras. As mulheres arredondarão os cantos das suas palavras a fim de evitar penhascos e muros.


Acredite ou não, a melhor fonte que encontrei como exemplo disto é com o filme Valley Girls. A linguagem de Val para garotas envelopa de maneira cantante em forma de degraus as palavras, arredonda as palavras e deixa fluir o que está escondido nas entrelinhas.


Sugiro que você alugue qualquer comédia de Whoopi Goldberg ou o filme "Valley Girls". Ambos contêm um bom exemplo do dialeto feminino.


É BEM fácil de se ultrapassar um extremo e então fazer uma entonação baixa do que tentar subir de onde você está agora. Há muita dificuldade no início ao se falar como mulher E cada passo requer trabalho adicional e hábitos adicionais devem ser superados. Quando você atinge um nível de sucesso tem de desaprender para alcançar o seguinte. Mas se você conseguir dar um pulo até o extremo e utilizá-lo, isto iniciará a fazer uma média com a enunciação que você estará usando agora e isto fará por si só com que o tom desça até que ele esteja bem na marca da conversação normal de uma mulher atual.


Estava acima referindo-me ao "dialeto feminino". Mas há muito mais do que isso. DE FATO, a Enunciação e o Alcance Dinâmico da feminilidade é aplicável a qualquer língua e cultura do mundo. As palavras e gramática podem mudar, mas a conotação do significado feminino é uma linguagem universal que pode ser compreendida de mulher para mulher independente de tempos e mundos.


Ainda, não foi definida ou estilizada. Na realidade, é bastante flexível. Mulheres não vivem um único papel, e sim vários, como: mães, esposas, mulheres de carreira, amigas. Nestes diferentes contextos elas falam em variações do dialeto feminino dependendo do papel sem perder a feminilidade. Isto pode ser percebido ao se caracterizar o dialeto feminino não como uma única coisa e sim como vários fatores juntos. Quando uma mulher muda de personagem para personagem ela usa as mesmas ferramentas, mas em diferentes ênfases, dependendo da situação.


A voz que eu uso com minhas amigas é diferente da que uso quando leio um trabalho em público. A voz que uso com meu namorado é diferente da que uso com minha esposa. Saia do binário, liberte-se da definição. Deixe-se levar pelo fluxo, seja flexível e saiba lidar com as variações de um tema.


VOCABULÁRIO


Pense na frase "O rango tá na mesa!" Qual o sexo da pessoa que disse isso? Uma mulher diria: "A comida está servida", e se ela quisesse ser desagradável, diria "A comida tá na mesa!" (blearg!)


A questão é que algumas palavras são mais masculinas ou femininas do que outras. Em parte, isto ainda deriva da relação de poder. Por exemplo, o homem normalmente "quer" algo, enquanto a mulher "gostaria de" algo. "Querer" significa "necessitar" e implica em "precisar", o que nada mais representa que o direito de ter. Isto reflete o lado agressivo da relação de poder.


Por outro lado, "gostaria de" denota uma preferência, não um intento, e contudo sugere a idéia de pedir algo a fim de verificar se alguém está contra, antes de agir. Isto reflete o lado submisso da relação de poder.


Você pode perceber a diferença na forma com a qual os homens e mulheres fazem o pedido diante do intercomunicador de um Drive-Through de um restaurante. Um homem diria: "Quero um Big Mac.", enquanto uma mulher diria: "Eu gostaria de uma salada, por favor."


Algo assim aconteceu comigo quando eu estava trabalhando em um filme como diretora de fotografia. Se estivesse ocupando este cargo como homem eu simplesmente diria à equipe aquilo que eu queria e eles assim o fariam! Mas no primeiro dos dois dias de gravação eu estava trabalhando com uma equipe que não me conhecia e era meu primeiro trabalho como mulher.


Então fui ao "set", como de costume, dizendo a todos exatamente o que queria: "Quero um mini de 1K naquele canto como luz de "set" e um "meio K" com um filtro amarelo como luz de cabelo." Ninguém se mexeu. Olhei à volta imaginando o porquê de nada ter acontecido. Então disse simplesmente: "Vamos lá, gente!" e eles fizeram, mas tão sem-vontade! E quanto mais eu dizia para eles o que eu queria, mais lentos e relapsos eles se tornavam.


No fim do dia tínhamos feito apenas a metade do que eu queria. Estávamos bem atrasados com o cronograma. Aqueles rapazes tinham trabalhado cinco vezes mais lentamente do que eu estava acostumada a fazer. Então fui para casa pensando no que tinha acontecido quando de repente me dei conta... Será que eles não gostaram de ouvir o que uma mulher "queria"?


Então no dia seguinte reuni o pessoal e disse: "Hoje gostaria de colocar uma luzinha lá atrás para iluminar o "set" e será que vocês poderiam montar algo para dar uma pouco mais de luz amarela sobre o cabelo dela"? Eles se entreolharam imaginando se essa era a mesma pessoa, então o chefe da equipe disse: "Tudo bem, vamos nessa pessoal" e fizeram tudo duas vezes mais rápido do que no dia anterior.


Quando acabamos tínhamos compensado todo o tempo perdido. De alguma maneira, dizendo-lhes o que eu "queria", eu tinha agredido o time, porque tinha construído uma imagem de "melhor profissional" do que eles. Mas ao dizer o que eu "gostaria que" fosse feito, eles trabalharam no intuito de o dar para mim. Naturalmente eles trabalharam na metade da velocidade que poderiam ter feito se eu fosse um chefe homem, mas no fim das contas era duas vezes mais rápido do que no dia anterior. Portanto, como mulher, muitos dos seus empregados não renderão aquilo que renderiam se você fosse um homem, mas enfim você pode minimizar as perdas dizendo-lhes o que você "gostaria que", mesmo sabendo exatamente o que você quer!


Outra coisa que os homens fazem é falar com relaxo mascando as palavras. Eles diriam: "Tamos indo bebê duas cerveja". "Tamos" não existe! Uma mulher diria: "Nós estamos indo beber duas cervejas." Ou melhor ainda, diria "tomar" ao invés de "beber".


Repare nestes tipos de expressão. Se você quiser ser feminina, evite-as como a uma praga.


GRAMÁTICA


A gramática lida com a estrutura das frases. Mantendo o conceito da equação de poder, os homens tendem a ser dogmáticos na nossa sociedade, as mulheres submissas. As mulheres podem ter modos, mas não opiniões. Os homens podem dizer que "farão" algo, mas as mulheres devem "estou querendo fazer" algo.


Estou usando os termos homem e mulher porque estes são os padrões sexuais da nossa sociedade. Mas na realidade (como em toda a abordagem) trata-se do masculino versus feminino. É a questão da cooperação versus conflito. Este artigo não pretende quebrar estereótipos, talvez acabe se tornando um estereótipo. Quando você chegar lá, PODE ACREDITAR que você encontrará INÚMEROS motivos para quebrá-los!!


Mas antes você deve tocar o extremo e então recuar um pouco até o equilíbrio. Tenha em mente que dificilmente há uma mulher viva que preencha todos estes quesitos. Mas usando-os regularmente em diferentes combinações, você poderá ter seu padrão de linguagem, de um modo geral, dentro de um parâmetro mais feminino do que aquele que você tem agora.


PORTUGUÊS CORPORAL


O último domínio que irei explorar é o Português Corporal. Isto é simplesmente a forma como você se move quando fala. O Português Corporal auxilia a voz e a voz auxilia o Português Corporal. Se uma voz feminina é como uma canção, o Português Corporal é como uma dança. Quando você junta à música a dança, elas desenvolvem harmonias entre si que se contrapõem fazendo o processo todo que cria uma sinfonia.


A parte mais interessante é que a voz e o Português Corporal se modificam mutuamente. Tente dizer algo sem se mover. Então tente falar a mesma coisa gesticulando bem. Você ouvirá que sua voz muda porque você está se mexendo.


Se você se mover de acordo com os seus pensamentos sua voz acompanhará. Mesmo ao telefone você soará mais feminina E mais humana!


CONCLUSÃO


Bem, isto é o que eu tenho para te oferecer a partir das minhas experiências pessoais. Espero que você tenha encontrado aqui algo de interessante e útil.


Boa sorte na sua jornada com os meus melhores desejos de que tudo o que você sonha se cumpra.


Melanie Anne Phillips


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Tradução para o português postada em versão anterior do site da Betinha - Elisabeth Bardotti, uma Crossdresser Brasileira


O site foi reformulado e o texto não está mais disponível


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NOTA:

Eu levei esse texto para a minha fonoaudióloga, ela leu, estudou com detalhes e disse que a maioria das sugestões ai estão corretas.

No entanto, como a autora mesmo comenta, uma pessoa pode ter problemas ao fazer isso sozinha, até o momento de encontrar sua voz correta.

E a fonoaudióloga também adverte para o que ela chama de "abuso vocal", que pode acontecer no caso de fazer esses exercícios sem acompanhamento, causando rouquidão e, ao longo do tempo, lesões nas cordas vocais, caso faça um esforço demasiado para mudar sua voz.


Por isso, é sempre recomendável o acompanhamento profissional.

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sexta-feira, 12 de junho de 2009

Transexual adota nome de homem sem fazer cirurgia

11/06/2009
Transexual adota nome de homem sem fazer cirurgia

Da Redação
Um transexual de 29 anos, que mora em Bauru, conquistou na Justiça o direito de mudar seu nome e o sexo em todos seus documentos pessoais sem que tenha se submetido à cirurgia de redesignação sexual. Pela sentença, o transexual, que nasceu com sistema reprodutivo feminino, passará a ser oficialmente chamado pelo nome masculino, o qual é conhecido desde a adolescência. A decisão, considerada inovadora, foi divulgada ontem pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo, que impetrou a ação de retificação de registro civil.

Agora oficialmente com nome masculino, o transexual, que se sentia constrangido com o fato de ter nome feminino e sexo feminino em seus documentos, procurou a Defensoria Pública de Bauru, órgão que presta assistência jurídica gratuita a pessoas que não têm condições de pagar advogado. A defensora pública Márcia Rossi Coraini, que impetrou a ação, frisa que a inovação da sentença é ter garantido o direito de mudança de nome e gênero nos documentos sem que a pessoa tenha passado por cirurgia para mudança de sexo.

“Pelas pesquisas que fiz, todos os outros casos de mudança de nome e de gênero nos documentos ocorreram após cirurgia”, diz. A decisão baseou-se nos argumentos da defensora pública, de que “a finalidade do nome é o conhecimento e individualização de uma pessoa no meio em que vive” e que o “registro público tem que manter relação direta com aquele aceito socialmente” e que a alteração pode ser feita naqueles casos em que a pessoa possua nome capaz de expor ao ridículo.

O transexual, relata a defensora, foi registrado como sendo do sexo feminino, mas desde a mais tenra idade possui identidade psicológica masculina e é reconhecido no meio social como sendo do sexo masculino, sentindo-se constrangido quando seu nome é revelado em lugares públicos. Na adolescência, ele se submeteu a tratamento hormonal e cirúrgico para retirada de mamas e vive há mais de três anos em companhia de uma mulher e seus filhos.

Se quiser, o transexual pode ainda se submeter à cirurgia para mudança de sexo, mas a defensora pública conta que o que mais o constrangia era o nome feminino. Na sentença, a juíza Rossana Teresa Curioni Mergulhão, ressalta que a cirurgia de transgenitalização é providência de cunho essencialmente íntimo, a ser realizada quando quiser. “A inexistência desse procedimento (...) não implica em impossibilidade de retificação do registro civil, diante do quadro real e psicológico que vivencia”, escreveu na decisão.

Na sentença consta, ainda, que o transexual desde a infância, apesar da configuração orgânica feminina, sempre sentiu-se como do sexo masculino a ponto de jamais ter se envolvido ou se relacionado com homens. Devido à angustia e abalos psíquicos, sofridos por sua situação, realizou tratamento com hormônios e fez cirurgia na qual retirou as mamas para ser reconhecido como homem. No entanto, com nome feminino, continuou a sofrer os mais variados vexames e situações sociais constrangedoras.

Durante o processo, o Ministério Público deu parecer de que não se trata de lesbianismo, mas sim de transexualidade pois, embora tenha corpo de mulher, o requerente “comporta-se e vive como um homem tanto que suas relações afetivas sempre foram e hoje são como de um verdadeiro homem, com outra mulher”. “Consta que atua como provedor do lar que mantém com pessoa do sexo feminino, com quem vive”, descreve na sentença. A ação foi proposta em fevereiro de 2008 e o pedido foi julgado procedente em fevereiro deste ano. A ação tramitou na 1.ª Vara Cível da Comarca de Bauru. O nome do transexual não foi divulgado.

Fontes:

Jornal da Cidade de Bauru

Com base em notícia divulgada no dia anterior, no site oficial da Defensoria Pública do Estado de São Paulo.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Defensores públicos admitem falta de conhecimento sobre travestis e transexuais

Por Thiago Tomaz 10/6/2009 - 14:01

"Travestis são pessoas que se sentem bem com seu corpo e mente. Já transexuais, não aceitam a forma como são constituídos biologicamente", explicou a presidente da Associação de Travestis e Transexuais (ATRAS), Keila Simpson, durante oficina realizada na tarde da última terça-feira (09/06), no Auditório da Procuradoria Regional da República da 3ª região (PRR-3), em São Paulo. O encontro fazia parte do 7° Ciclo de Palestras do 13º Mês do Orgulho LGBT e evidenciou as dificuldades enfrentadas tanto pelas transexuais quanto pelas travestis quando o assunto é o acesso à Justiça.

Após debates paralelos com os temas violência e segurança pública, direito das famílias e direitos de transexuais e travestis, o presidente do grupo Corsa, Lula Ramires, e dois defensores públicos formaram uma mesa no auditório principal da PRR-3. No entanto, a falta de um relator no grupo das travestis e transexuais obrigou a transexual e presidente do grupo Aphrodite, Fernanda de Moraes, a falar sobre o que tinha sido proposto na sala. "Nós não temos direito nem à orientação sexual", revelou.

A afirmação suscitou discussão entre as pessoas que estavam na plateia e os representantes da mesa. "Elas são o grupo menos favorecido", continuou Lula Ramires. Após alguns minutos de sugestões e explicações, os defensores públicos constataram. "Precisamos aprender mais sobre travestis e transexuais".

Dificuldades visíveis
Por volta das 13h30, pouco antes das salas de reunião serem abertas, Fernanda passou por um constrangimento na portaria do auditório. Ela procurou por seu nome na lista de presença, mas não encontrou. Depois, os funcionários que faziam a verificação mostraram a ela um dos nomes e pediram que assinasse. "Aqui está escrito Fernando e eu sou Fernanda", disse irritada.

O problema só foi resolvido quando confirmaram que Fernanda seria uma das palestrantes. "Ao nascer temos um nome dado pelo pai, se tem pintinho é masculino, se não tem é menina. Eu posso impor que as pessoas me chamem pelo nome social, mas na Justiça complica", apontou Keila ainda na discussão da sala 76. "Precisamos olhar as pessoas como elas querem ser vistas", completou a ativista depois de se assumir travesti.

"Eu sou mulher, mas sofro o mesmo preconceito da Keila", disse Fernanda. A transexual também comentou sobre a portaria que autoriza a cirurgia de readequação sexual pelo Sistema Único de Saúde (SUS). "Não temos profissionais capacitados para isso", declarou. De acordo com Keila e Fernanda, os psicólogos criaram um padrão de transexual.

Medidas práticas
Na visão do Procurador da República do Rio Grande do Sul, Paulo Leivas, as soluções para as carências das transexuais e travestis são mais simples do que parecem. "Já existe um espaço na Justiça para conseguir a troca do pré-nome", disse. Ainda segundo o procurador, na questão da cirurgia de readequação sexual, os médicos que não seguem os critérios do Ministério da Saúde devem ser processados. "Os médicos que não fazem acompanhamento por pelo menos dois anos com a paciente devem ser denunciados ao Conselho Federal de Medicina", aponta. "Não é bem assim, doutor", analisou Keila.

Pouca Adesão
Enquanto os outros grupos de discussão receberam um bom número de inscrições, o das travestis e transexuais contava com apenas alguns curiosos e uma procuradora. Durante a mesa final, Lula Ramires cutucou. "Suponho que vocês não participaram do grupo das travestis e transexuais porque acharam que não iam contribuir".

Após a constatação da falta de conhecimento e a unanimidade de que a primeira medida a ser tomada por elas, na conquista dos direitos, seria a retirada da transexualidade do registro de doenças, ficou definida a realização de um Seminário sobre identidade de gênero, em data a ser discutida, para procuradores públicos e representantes do Conselho Regional de Psicologia (CRP).

Na cartilha final também consta a criação de uma portaria para a mudança do pré-nome e visitas das transexuais e travestis às Varas Federais para serem apresentadas a juízes.

Confira a matéria original no site A Capa:
http://www.acapa.com.br/site/noticia.asp?codigo=8374

NOTA:
Estive presente no local e posso dizer que, ressalvadas algumas confusões na redação, a matéria até que expressa bem o que aconteceu no debate de ontem.

Exceto pela parte onde qualifica nossa presença, de um casal de amigas lésbicas e de uma socióloga inglesa que faz pesquisa sobre o tema para seu Doutorado, como "apenas alguns curiosos", como se não tivéssemos nada ver com o assunto. Arghh...

Por outro lado, hoje descobri que, mesmo não sendo citada na matéria, a foto desta "curiosa" que vos escreve está na chamada para a reportagem, na página inicial do site. Ou seja, na capa do "A Capa"... rsrsrsr


Bem, depois de alguns dias, a chamada saiu da capa e passou para o canal Brasil, no interior do site.


Confiram:

http://www.acapa.com.br/site/subcanal.asp?codsubcanal=14&codigo=2

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